Convicção no olhar, palavras firmes e uma bela lição de vida. Não há quem não se emocione com a história e trabalho de Dona Sofia Sirila de Sousa Silva: uma mulher como tantas que batalham para criar seus filhos com muito esforço, suor e dedicação. Esta acrescentou perseverança e vontade de vencer, e tornou a saída da dificuldade em meio de vida e de independência financeira.
Numa conversa com o NetPiauí, contou que há 30 anos, em meio a dificuldades, aconteceu algo que mudou sua história. Estava grávida do quinto filho. O marido, como muitos nordestinos naquele período, foi para São Paulo tentar ganhar a vida, e Dona Sofia não tinha nada para o enxoval. Na época, um programa do governo doava material e cadastrava as mulheres em mesma situação para que elas mesmas preparassem seu enxoval. Aprendeu a fazer redes. “Redinhas de bebê”. Gostou e continuou. Seis anos depois, após o primeiro curso de redes grandes, aprendeu rapidamente uma nova técnica e não parou mais.
O início e o apoio
Dona Sofia revelou que o começo foi complicado, e mais difícil e trabalhoso que fazer, era vender as redes. “No início, como ninguém sabia que eu fazia rede, andava com elas numa sacola, e oferecia de porta em porta, em repartições também. Certo dia uma senhora estava a procura de uma rede para seu marido, e eu apareci com o produto. Ela ficou muito feliz e satisfeita com a qualidade, e comprou na mesma hora. Depois indicou para outras pessoas, que também compraram. Fiquei muito animada”. A futura proprietária da Soarto (Sofia Artesanato) começava o seu trabalho com venda de redes. Depois começou a vender em ‘consórcio’, que deu mais seriedade ao trabalho.
No princípio fazer as redes era um trabalho lento e demorado, pois mesmo sendo um produto artesanal, não havia estrutura mínima que permitisse uma produção em escala. “Aos poucos fui aperfeiçoando a forma de trabalhar, passei a terceirizar a mão de obra da parte do crochê – que deu mais agilidade à produção – e comecei a ajudar outras pessoas, que faziam os bordados, gerando renda” acrescenta Dona Sofia,
Hoje a Soarto vende seus produtos e gera envolvimento social. A estrutura aumentou. Cerca de 15 mulheres, as crocheteiras, fazem as varandas de crochê, cada uma em sua casa, no seu tempo. Aproveitam as horas de folga, e tem uma fonte de renda extra.
Ação social
Além de produzir redes belíssimas, Dona Sofia já atuou como instrutora e capacitou muitas mulheres. Criou grupos, gerou cursos e a grande maioria delas passou a ter na produção de redes um meio de vida. Uma dessas ações foi o Projeto Mulheres que Tecem na Paz, promovido em parceria com o Governo do Estado e parcerias, em 2009. Nele Dona Sofia diz ter realizado um sonho, de repassar o seu conhecimento para tantas mulheres. Mas ela alerta: “Eu digo uma coisa: além do dinheiro, tem que gostar! Precisa ter amor. Muitas pessoas desistem porque só querem saber do dinheiro”.
Para a produção de redes artesanais não são necessários equipamentos sofisticados. É um trabalho basicamente manual, com pouco uso de máquinas. Segundo a artesã, as principais dificuldades são encontrar pessoas que queiram trabalhar e a aquisição de matéria prima, pois o tecido é muito caro. Ela tem como meta comprar fora do estado, em larga escala, para ter um produto mais em conta. Além disso, almeja ser empreendedora individual.
Soarto é um projeto que faz parte da Rede Social Solidária. Dona Sofia esteve no coquetel de lançamento da Rede, e emocionou a todos com o relato de um pouco da sua história. Ela acrescentou, emocionada, que participar deste projeto representa para ela uma conquista, e o reconhecimento de uma história de vida.
Conheça o projeto de Dona Sofia:
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