No dia (10) de julho do ano de 2010, por volta das 9h00da manhã no loteamento Setor Boa Vista localizada no bairro Esplanada, zona sul de Teresina (PI), Tatiana de Oliveira teve sua filha Bruna de Oliveira Ribeiro, levada pelo próprio pai, o Sr. Manuel Ribeiro. Na época do desaparecimento a menina Bruna tinha dois anos e 10 meses.
Dª. Tatiana procurou a delegacia da área e registou o B.O. Em seguida procura a Defensória Pública Da 1ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Teresina, na Rua: Mato Grosso, bairro Cabral c/n. Não havendo nenhuma resposta dos órgãos competentes, Tatiana procurou um canal de televisão da capital para denunciar o caso, tendo assim, o desaparecimento de sua filha divulgada em toda mídia do estado.
Após dois anos e 6 meses do desaparecimento da pequena Bruna, Tatiana de Oliveira recebeu uma carta. Carta está que lhe dava esclarecimento de onde se encontra sua filha.
Está carta revela que a criança se encontra na cidade de Santa Luzia do Paruá (MA).
A carta explica que houve um problema com o pai da criança (o autor do rapto), e foi levada ao conselho tutelar daquela região, e de lá levada para um abrigo.
Peço ajuda da RSS, para que alguém me acompanhe até os órgãos competentes para que eles deem procedimento à busca de minha filha, e preciso de uma pessoa para ir até lá comigo porque meu grau de escolaridade é pouco. Preciso de um transporte, pois nem o dinheiro para pagar as passagens de ônibus eu não tenho, relata Tatiana de Oliveira.
Tatiana de Oliveira sendo atendida por funcionária da Defensoria Pública da Infância e Juventude.
Assim como Tatiana de Oliveira, existem outras mães com seus filhos desaparecidos.
Dados alarmantes envolvem pessoas desaparecidas no Brasil. Mais de 200 mil pessoas desaparecem por ano, sendo 70% dos casos crianças e adolescentes. São Paulo lidera o ranking estadual. Segundo a Delegacia de Pessoas Desaparecidas do Estado de São Paulo, ligada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), 60 pessoas desaparecem por dia no estado.
Muitas são as causas dos desaparecimentos, entre essas estão: problemas familiares (fugas por abandono material, violência doméstica, desentendimentos), crianças que acabam se perdendo andando nas ruas das grandes cidades (frequentes em São Paulo), pessoas portadoras de deficiência mental e até casos de sequestro internacional de crianças ou a adoção ilegal em outro país.
No dia 31 de março de 1996, surgiu a Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas (ABCD), mas conhecida como “ MÃES DA SÉ”. Fundada através da iniciativa de duas mães de crianças desaparecidas, Inanisse Esperidião da Silva e Vera Lúcia Gonçalves. A iniciativa surgiu inspirada nas Mães da Candelária, que atua na elucidação de casos de desaparecimentos.
Elas quiseram criar em São Paulo uma entidade que atuasse em busca de soluções para um problema que atinge milhares de famílias no país, mas que nem sempre chega ao conhecimento da maioria da população: o desaparecimento de crianças.
Ivanise e Vera, que hoje ocupam cargos de presidente e vice-presidente da ABCD, respectivamente, conheceram-se em janeiro de 1996 quando estavam num grupo de mães de crianças desaparecidas de São Paulo, que foi convidado a participar das gravações da novela Explode Coração.
Para quem não se lembra, a novela, de autoria de Glória Perez, levou para o horário nobre da TV Globo o drama de familiares de pessoas desaparecidas, dando origem a uma campanha nacional que resultou na localização de 113 pessoas desaparecidas na época, entre crianças, adolescentes e adultos.
Existem também dois grupos que atuavam na elucidação de casos de desaparecimento de pessoas em outras regiões do país, as Mães da Cinelândia (RJ) e o Movimento Nacional em Defesa das Crianças Desaparecidas (PR).
Estimuladas pelo trabalho desenvolvido por esses grupos, Ivanise e Vera decidiram, então, criar em São Paulo uma organização semelhante.
Pouco meses depois de criada, a ABCD começou a ganhar visibilidade na mídia e o apoio de algumas empresas que, impulsionadas pela novela, passaram a apoiar a causa da associação.
Paralelamente, a ABCD iniciou um movimento de mães que se tornou permanente. Sempre aos segundos domingos de cada mês, na Praça da Sé, no centro de São Paulo, um grupo delas leva em próprio punho cartazes com fotos de seus filhos desaparecidos na esperança de que alguém que esteja de passagem pela região possa ajudá-las com notícias sobre o paradeiro de seus entes queridos.
Foi por conta desses encontros, que não deixam de ser um protesto silencioso diante da ineficiência do Estado em solucionar o problema do desaparecimento de pessoas, que a entidade passou a ser conhecida pelo nome de Mães da Sé (numa alusão às Mães da Praça de Maio, na Argentina).
Até o nascimento da Associação, essas mães se reuniam nas escadarias da Catedral da Sé como forma de um protesto silencioso para chamar a atenção das autoridades competentes e da própria sociedade para a gravidade do problema. Hoje, com o movimento organizado, a ONG vem combatendo as situações de desaparecimento infanto-juvenil por entendê-lo como violação dos direitos humanos e também fiscaliza as ações das instituições governamentais visando à garantia do exercício da cidadania.
Com a articulação de Ivanise e Vera, a associação aos poucos começou a contar com o apoio de voluntários. No início do ano 2000, por exemplo, conseguiu estruturar dois núcleos importantes: coordenadoria jurídica e a divisão de apoio psicológico, passando a oferecer serviços nestas áreas para seus associados.
Expansão:
A ABCD, que surgiu para atender a uma demanda restrita a crianças desaparecidas em São Paulo, ampliou seu foco de atuação ao longo de sua existência. Atualmente, atende a demanda de familiares e amigos de pessoas desaparecidas em todo o país, independentemente da faixa etária.
“Tínhamos um sonho que era o de criar uma entidade que tivesse o reconhecimento do poder público e de toda a sociedade civil. Graças ao nosso trabalho, estamos transformando esse sonho em realidade e, de certa forma, amenizando a dor que sentimos em nossos corações”, relata Ivanise.
Fotos: Joselito Andrade